sábado, 28 de julho de 2012

Olhos de terras

  Zumbidos ensurdecedores roubam todo o silêncio que a chuva trazia. Olhei para todos os lado e nada vi. Apenas manchas cinzas entre árvores mortas. E nada falava, apenas gritavam em todo lugar. Silêncio se fez e pude ouvir marchas como as soldados tortos. Senti que algo me matava.
 Meus olhos, a única coisa que ainda tinha cor ali. Cor de terra em dias vivos. Tive de medo que eles também morressem. Comecei a gritar incessantemente. Agudos e graves ao mesmo tempo. A agonia crescia a cada passo sem rumo, um labirinto aberto; sem paredes, sem obstáculos. Só me calei quando percebi que ainda restava um pouco de sanidade.
  Começaram a ranger. Todos rangiam. Todos quem? As árvores ou o cinza? Ouvi um choro humano bestificado, ao meio de medo e dor. Senti pontadas em meus olhos que perdiam a cor. Peguei um lápis negro e fiz uma porta no chão. Abri sem pensar duas vezes e, cai e cai.
  Cheguei ao chão vomitando sangue, sangue morto. Andei por uma estrada morta, vi rostos mortos me observarem, seus olhos me seguiam de forma morta. O medo dominou todo meu corpo, senti um sol frio. Luzes se acenderam como se alguém me aguardasse. Calei meus olhos.
  Senti que era por ali que devia seguir. Maldita intuição, que só me mata. Ouvi portões rangerem. Era o portal do inferno. Corpos imundos e de pessoas mortas tocavam meu corpo, como se quisessem minha alma.
  Fechei meus olhos. Os abri. Estava em meio a luzes brancas agora. Era quente e frio. Um calor úmido. Aquele instrumento desafinado não parava de tocar. Adormeci como um desmaio.
  Silenciou tudo. Dormi por sete dias, acordei como se não tivesse dormido. Surravam meus ouvidos com o silêncio. A ausência me deixou paranoica.
   Comecei a dançar como bêbada. Cores tomavam forma e som. Morri três vezes em uma.
   Tudo voltava a ficar cinza, era uma briga entre a dança insana e a morte. A escuridão tomou conta do meus corpo, começando da extremidades. Meus olhos foram os últimos a morrer. Dentro de mim voltei ao labirinto cinza. E repeti as mesmas coisas. Morri dos mesmos modos, senti o mesmo medo, cuspi o mesmo sangue, chorei velhas lágrimas, congelei o mesmo corpo, segui a mesma estrada.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Colher

  Cale a boca! Ao menos um minuto, por favor. Não consigo escutar o que meus olhos vêem. Que doce, essa sua cara; quase não senti vontade de te matar. Mas colheres não matam zumbis, foi apenas um sonho! Amigo ou não, ele vai morrer!
  Jurava que era verdade, até vi meu irmão. Ele nunca me deu uma arma. Quem sobrevive com uma colher no caos? Eu sobrevivi. Porque aquele cara gordo me ajudou. E nós jogamos a noite toda, até os zumbis voltarem, o pesadelo nunca acaba.
  Você disse que ia voltar, mas não voltou. Por que? Será que morreu? Poderia ter voltado para me dizer se morreu...
  Não sabia que eu podia matar amigos. Quando sou eu ou você, sou egoísta. Não pensarei duas vezes. Te matarei, com minha colher, mas te matarei. Talvez devesse achar uma arma.
  Disseram que era surreal. Mas achei bem real. Tirando a parte dos ursos na janela, isso era coisa da minha mente.
  Minha mãe mandou calar a boca, ela nunca me escuta. Porque é difícil acreditar que foi verdade. É medo? A sensação é a mesma...
  Apaguei tudo e fui dormir.
  De novo! Mais uma vez, eles voltaram para morrer. Ah, que merda! Estou cansada! É só o Sol se por e eles nos atormentam de novo. Odeio-os. Não posso sair de casa. Eles querem me matar. Mas até que é legal matá-los. Pena que se tem que limpar tudo de depois. Não sei quanto tempo vamos durar. Ainda precisamos nos alimentar...
  Talvez amanhã ele não vá dormir, e será dia o dia todo. Poderíamos ter nossa liberdade novamente.