sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Querida V

Olhe mas não toque
Frágil
Este lado para cima
Cuidado

Embalado em pureza
Para você corromper
Cristais
Para você quebrar

Não pode ser remendado
Não há conserto
Está inutilizável
Não se recicla, não se decompõe



A Distopia de Brígida

Eles mentiram para nós
Não há nada após o muro
Apenas outdoors com fotos 
De hambúrgueres que nem existem

Você dedicou sua vida à nada
Já pode se considerar um trouxa inútil
Já pode se viciar em qualquer futilidade
Pra fugir dessa merda de realidade

Você não sabe lidar com a verdade
Vão colocar correntes em seus lábios
Vão te amarrar em tecidos úmidos
Porque você é um bosta

Eu diria até que te amo
Mas eu nunca vi isso
Vamos gritar um com o outro
Até morrermos de insanidade

Por você me tome
Eu preciso ser arrebatada 
Antes que sucumba no tédio
Consuma minha mente,
Devore até meus ossos

Estou perplexa
Estou perplexa
Vou morrer de excitação 
O medo corrói a alma

Fallsto

Está tudo morto
Na mesa do jantar
Cadáveres
Que oxidam o ar

Enxofre e ferrugem
O podre e a pedra

Nada sacia
A água foge da boca
Escorre pelos pés
Como o sangue do seu aborto

Se arranha inutilmente o nada
Tentando inutilmente impedir a queda
Que é inutilmente sem fim

Morto por dentro
Seus olhos vertem pelo nariz
Um rio que flui para o vazio
Como sua alma escusada

Nada preenche o vazio
Seco
Sufocada
Esperando num caixão