terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Olherso

  Ele tinha dois olhos que cabiam o universo todinho, com um grande buraco negro no centro de cada um. Os olhos se afastaram de mim, lentamente. Não piscavam; nem demonstravam mais emoção do que uma grande depressão, daquela que a gente não sabe se tem fim ou não. Eu só podia olhá-los, emudecida, senti que contemplava a maior beleza do universo, que agora se esvaia, mas não tão tarde, era tudo o que eu tinha, na mente.
    Horas passavam e eu estava imóvel, absorta. Talvez por isso não vemos os anjos. A tontura tomava-me. Eu esta imóvel, mas só eu. O mundo todo era sugado por um ponto escuro. Vozes celestiais, ensurdeciam. Um Armagedom na minha cabeça.
  Podia ver apenas aqueles olhos.
  Uma dor tomava todos os meus membros.
  Me converti em energia.
  Eu não podia me mover.
  A minha volta, crianças rodavam. Mas eu só podia senti-las.
  Uma música incessante, de poucos acorde.
  Tudo o que eu tinha na mente era o universo.

  Não sei, uma dádiva.
  Uma angústia.
  Obcecada, fechei meus olhos.
  Lembrei, então, dos meus.
  Todo o universo agora morre.
  Foram três segundos eternos.
  Nunca os compreendi.

  Sinto que uma parte de toda a beleza se foi. Nada será mais belo que aqueles olhos. Foram só três segundos, mas me perseguiram por décadas de sonhos. E quando chegou a vez de minha vida ir, vi os olhos novamente, agora sorriam para mim. Senti a paz e a nostalgia de um bom fim. fechei meus olhos e não vi mais nada.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Bocas cegas

  Falar uma sequencia de palavras, atuar é fácil para um mentiroso. E seguindo uma estrada que não acompanha seus desejos, suas fés.É tudo sem paixão, sem suspiros, sem dor de verdade. E tudo o que falta é rir, se pudesse rir agora, se pudesse ouvir.
  Sinta o frio da sua cova. Sinta! Grite, vadia miserável! Grite... Veja a seca de seu futuro e fogo que te aguarda na sua cova fria; foi você. Tudo acabaria com um "não". Mas segue sua trilha amaldiçoada, espiando pelos muros... Vivendo a incerteza.
  E aquelas bocas tão cegas, sempre te humilhando, você nunca será boa. E todo receio, agora arrependimento. Sorria. Sempre haverá alguém melhor, alguém que é reconhecido, e você não é. Sorria, vadia, você está quase chorando.
  De novo e de novo. - Você não desiste? Você não desiste? - E porque deveria? - É tão maior que você. O que você tem? Você não serve! Um lixo, é assim que você deve se sentir! É assim que se sentiu, todos os dias. Falsa modéstia, não se amar quando se olha no espelho e achar que ninguém poderia amar também.
  Mas toda manhã você acha que vai ser diferente, você acorda sorrindo, achando que tudo irá mudar, e que poderá sorrir por todo o dia. Mas você não ri. E torce para que um milagre aconteça. Porque talvez hoje...
  Um sonho, inalcançável talvez. Mas é o que te afasta da cova, é a paz para seu espírito inquieto. Acordou hoje, mas não o corpo e nem a alma. Foi dormir tão triste, tão sozinha. Aí se lembrou que risadas não confortariam agora, desejou um ombro quente e dois braços, porém dormiu sozinha, com um nó na garganta e uma consciência insatisfeita. Mas acordou sorrindo. Talvez hoje...