terça-feira, 11 de setembro de 2018

Azia

Eu fui engolida por uma baleia
Eu tomo vinho nas ceias
Com meus companheiros de estômago
Nós cantamos e dançamos sempre que achamos que é noite

Se eu enviar uma mensagem numa garrafa
Alguém virá nos resgatar?
Ainda lêem cartas cagadas?
Essa é a geração da comunicação

Joe perdeu um olho
É difícil enxergar no escuro
Procurar por olhos cegos
Na umidade da umbra

Antumbra, pósitron
O mundo é uma piada
Mal digerida
A vida é diferente numa baleia

Lá fora diziam que amavam
Faziam duas ou três promessas de amor
Isso porque eles não me conheciam
Eu posso ser eu mesma aqui na baleia

Pois eu nunca gostei dos jogos sociais de lá fora
Na escuridão dum estômago eu posso cantar
Sobre os tempos que eu não vivi
Sobre palavras que minha boca gosta de pronunciar

Eu não quero que o Sol me cegue de novo
Eu não quero que me abracem como se eu fosse a salvadora novamente
Eu não quero me casar com um meio homem quebrado mais uma vez
Eu não quero fingir que me importo numa sala de jantar, não, não outra vez

Eu gosto das festas estomacais
De dormir no quietude do oceano
Mas um dia o ácido gástrico irá corroer meus pés, e não muito depois o meu cérebro
E eu não poderei mais cantar ou dançar com meus companheiros de estômago



domingo, 9 de setembro de 2018

Desagregada













Embaçada

A água escorre pelo corpo
Anestesiado, morto
Pelo estresse
De viver

A boca seca
Não há água que sacie
Não há comida
Que alimente

Queria arrancar
O coração
Do corpo
Para ver se ainda bate

A dor física e mental
Parecem irreais
Latejam
Como uma memória gasta

Há vida após a morte?
Há vida em vida?

A distopia é real