quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Via

É assim, novamente
Sou feita estátua
Admirada na dor e na felicidade
Apenas o que se vê

O chão, a pedra, o sangue
Se ouve de longe o riso
De quem não se afetou
Com a falta de afeto

Não visualizar-nos
Decepção invisível
O choro que não escorre
Para fechar a ferida

Errado, certo, errado
Bem e mal, mal
Tudo desmorona
Num solo idealizado na negação

Meu sangue, seu sangue
Escorre na pedra
O choro de quem
Novamente, me faz desmoronar

Para fechar, não visualizar
Faltar por bem e mal
O riso foge num riu
Que se admira,
Para causar dor e felicidade.

Leite

Dos meus maiores trunfos
Você fez seus tapetes
Que limpa os seus pés sagrados
Imaculados e perfeitos

Você me vê como a sua
Boneca quebrada
Rabiscada e imunda
Que já não pode mais brincar

Te sirvo como escudo
Alvo de seus tiros
Objeto de ridicularização
E sua muleta reservada

E quando vejo
Minha liberdade
Diz que me dará correntes
Que precisa de um corpo
Para se apoiar e esmagar
Nos dias de amanhã

Cada abraço negado
Cada afeto negligenciado
Você me sufoca
Num mar de ausência

E de tudo,
O que mais me dói
É que a cada vez que me olho
Eu vejo você