Pés descalços deslizando por um chão liso e frio
As lágrimas entaladas atrás dos olhos
Um suspiro tentando buscar pela vida
Que se esvaia ao se apresentar, o agora
Sou fabricada
Procurando o cru e a cerne
A carne e o sangue
A dor já não era sentida
Numa voz morta
Dando respostas desenhadas para não desagradar
E ninguém me via, nem mesmo eu
Mil grades em minha mente
As roupas desconexas
O olhar vagava de vácuo em vácuo
Passando a mão por minha pele
A sentia como se fosse ontem
A realidade se esvaia ao se apresentar
Onde está o agora?
Meus lábios, que foram traumatizados para dominar e seduzir
Estavam presos e confusos
Como um livro que se empoeira na estante
Recusando-se a abrir
Observo minha própria vida
Pela janela do outro
Morta pela expectativa
E pelo expectador
Fria como uma boneca sem ação
Perdida em meu labirinto
Pensamento sobre pensamento
Para não ver, ouvir ou sentir
A dor que se esvai ao se apresentar
O agora e o eu,
Mortos
Um silêncio morto
Num banquete de coroação
Via-se os meus ossos de quem tem fome
Mas recusava-me a comer
Acorrentada aos fantasma dos que sofreram comigo
Para morrer
Eu me sentia como se
Tivesse nascido para morrer
Enquanto vivo