sábado, 27 de março de 2021

Navegação

Pés descalços deslizando por um chão liso e frio

As lágrimas entaladas atrás dos olhos 

Um suspiro tentando buscar pela vida

Que se esvaia ao se apresentar, o agora


Sou fabricada

Procurando o cru e a cerne

A carne e o sangue

A dor já não era sentida


Numa voz morta

Dando respostas desenhadas para não desagradar

E ninguém me via, nem mesmo eu

Mil grades em minha mente


As roupas desconexas

O olhar vagava de vácuo em vácuo


Passando a mão por minha pele

A sentia como se fosse ontem

A realidade se esvaia ao se apresentar

Onde está o agora?


Meus lábios, que foram traumatizados para dominar e seduzir

Estavam presos e confusos

Como um livro que se empoeira na estante

Recusando-se a abrir


Observo minha própria vida

Pela janela do outro

Morta pela expectativa

E pelo expectador


Fria como uma boneca sem ação

Perdida em meu labirinto

Pensamento sobre pensamento

Para não ver, ouvir ou sentir


A dor que se esvai ao se apresentar

O agora e o eu,

Mortos

Um silêncio morto


Num banquete de coroação

Via-se os meus ossos de quem tem fome

Mas recusava-me a comer

Acorrentada aos fantasma dos que sofreram comigo


Para morrer

Eu me sentia como se

Tivesse nascido para morrer

Enquanto vivo