quinta-feira, 10 de abril de 2014

Rotina

   Acordo meio tarde, não sei se almoço ou tomo café. Vejo qualquer coisa pra me distrair, algo fácil de olhar. Saio pra um lugar merda que me faz sentir mal, com pessoas que me deixam depressiva, só quero ir pra casa. Cheguei, respiro, já estou atrasada. Volto sem saber porque saí, como uma comida ruim, vejo qualquer merda pra esquecer que meu dia foi um lixo, que minha vida é um lixo, alguma putaria barata e sem valor. Vou dormir.
   Acordo meio tarde, quero voltar a dormir, comida ruim, curso ruim, pessoas idiotas, metrô, colegas idiotas, não me olhei no espelho, casa, microondas, pc, cama.
  Acordo, acho que o dia vai ser bom. Logo percebo que não. Saí com remela no olho, não me olho no espelho faz uns 3 meses, queria que todas as pessoas morassem em outra galáxia. Uma plantinha bonita, eu gosto de plantas. Sem vontade de comer, morrendo de fome, como qualquer coisa, era melhor ter ficado com fome. E o dia passou, nem vi.
   Infelizmente acordei novamente, decidi me olhar no espelho, não sei porquê. Meus seios não estão na mesma altura, meu corpo é desalinhado, acho que quero ficar em casa, mas não dá. Visto qualquer coisa, nem percebo. Queria ser invisível. Existir dói a alma.
   Vivendo os piores anos da minha vida. Queria ser bonita como uma guerreira que vi desenhada. Queria poder matar todo mundo, como ela. Ela tinha seios alinhados. Queria poder me preocupar com o que ela se preocupa. Queria lutar sem saber se vou resistir, queria sentir a adrenalina. Cada segundo uma nova tensão. Sem saber, cada segundo uma descoberta para interagir.
   Queria poder pular os muros como um gato, caçar algo pra comer ou me divertir. Queria mijar nos muros como um moleque de 7 anos. Queria me esconder de algo, aquela emoção de desespero. Queria sentir algo que me fizesse arrepiar, sem ser a dor de se odiar. Queria poder respirar na chuva rindo, correndo de nada pra lugar nenhum. Queria transar numa árvore.
  Essa vida sufocante, esse meu corpo morto. Quero viver novamente.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Desertada

Eu sei lá. Acho que vou pular, talvez não,
Mas o que te importa? Saia daqui, mas não me deixe!
Ah! Você nunca entente?!
Cala a boca, eu só quero morrer rapidinho.

Esse lugar fede.
Porque você não é como parecia ser,
E eu não sou mais eu.
Mas você é burro e não vai entender.

Saia desse corpo e olhe de cima,
Eu não sou tão assim e nem você.
Ah, eu odeio essa calça!
Vamos pular...

Você parece uma ponte feita de cordas e madeiras,
Só a altura que varia.
Nem sei se do outro lado é tão bom assim...
Eu sei lá, só pule agora!

Eu odeio todo mundo!
Eu odeio as pessoas físicas
Eu não quero ter um corpo
Eu quero flutuar num ar calmo.

Parem de me olhar!
Eu não sei lidar com nada além disso.
Pular ou não, é simples.
Eu não confio muito em ninguém.

Eu só preciso falar.
Mas ninguém quer ouvir.
Eu acho que vou pular.
E depois fumar bolhas de água até dar aquela sensação ruim no nariz.

Todo mundo é tão natural no seu corpo.
Eu queria poder morrer quantas vezes fossem precisas.
Mas você nunca entende,
Minha necessidade de gritar.

Cala a boca!
Você é tão cretino!
Um ignorante cego e mesquinho!
Cala a boca, porra!

Eu não aguento mais,
Esse mais ou menos que você me dá.
Saia de cima, então!
Me deixe em paz!

Não!
Eu não vou parar!

~

Pode continuar a festejar!
Eu não me importo.
Ridículos e surdos.
Eu odeio vocês.

  Eu vou me aquecer em meus braços, eu vou beijar meus joelhos ralados. Eu não necessito de alguém, nunca realmente necessitei.
  Eu não me importo! Eu estou trancada num casa de vidro fria, eu ouço vocês rirem, mas eu não me importo. Aqui eu me tenho, e você nunca me terão! Eu sou maior que mundo, mas vocês não podem me ter ou me tirar de mim. Eu sempre estive aqui só. E agora ou amanhã, tanto faz, eu sei me aquecer nesse inverno.
  Não, eu não tenho armas como eles, não consigo viver nessa sociedade de formas físicas. O que eu tenho vocês não podem vem.
  Mas eu não vou chorar, eu não vou cair aos seus pés. Tudo seca no deserto de gelo. Eu estou longe de tudo. Você nunca saberá como é.

Eu acho melhor você ir embora agora,
Vai escurecer e nunca te ensinaram a lidar com lobos.
Acho melhor você ir, eu não vou me machucar para te proteger.
Você não me verá sangrar, mesmo que isso custe você.

Eu cansei de compartilhar solidões.
Cansei de me concretar em formas estreitas.
Você não pode entender.

E o que me corta é que você não se importa.
Eu já não sei porque ainda temos essas letras nos corpos.

Só me deixe pra morrer só, você não vai querer ver.




Quem ficaria?

  Eu estou me sentindo só, cada dia mais, acho que não deveria ser assim. Eu queria alguém que pudesse ouvir. Mas eu vejo facas em punhos. Alguém, qualquer alguém.
  Eu só preciso ter onde segurar, eu estou quase caindo. Afogando-me em lágrimas mortas, tão mortas quanto eu. Me perguntaram se era falta de autoestima, eu já nem consigo olhar pra isso, estou no fundo de um oceano, eu não consigo nem mais ver as frestas de luz. Me embalo num sono eterno, eu não quero acordar.
  Aquele cheiro me transportou para uma época feliz, onde eu existia em você, onde você ainda se importava. Eu não quero dançar com você apenas por já estar aqui.
  Porém eu estou pronta pra chorar se for preciso, eu já estou só. Eu já estou chorando.
  Eu sou o bobo da corte, eu sou apenas um suporte.
  Eu quero me sentir completa de novo.