Quem bate à porta?
Entrou sem ser convidado
Já se sente em casa, o estranho
Pede uma xícara de café
Diz que veio para ficar
Pôs os pés sobre a mesa
Jogou o casaco no chão
Me chamou intimamente
De apelidos que não tenho
Escolheu discos que detesto
Me tirou para dançar
Suas mãos escorregavam demais
Seus olhos eram incêndios
Disse que eu era muito recatada
E deveria usar vestidos de festa
Tirou as fechaduras das portas daqui de casa
Rasgou as cortinas, quebrou os vidros das janelas
Tirou zilhões de espelhos da mala
Disse que narcisismo era a tendência do século
Falou que era para o meu bem
Que eu não me amava o suficiente
Jogou fora todos os meus biscoitos
Falou que a frutose me mataria antes dos 30
Pintou minhas unhas e lábios de vermelho
Cortou os meus cabelos
Se livrou dos meus gatos, era coisa de bruxa
Segundo ele... NÃO!
Primeiro ele, primeiramente ELE, sempre!
Era o exemplar modelo de quem eu deveria ser
Um homem de visão
Um homem de garras
Um Homem!
Me deu livros de autoajuda
Que era para eu me educar
Ser transcendente, de outra frequência de universo
Eu me perguntei onde está a minha casa
Me encontrava num labirinto de espelhos
Com um rosto que não reconhecia
Num vestido que não escolhi
Com a cara pintada como uma garota que não sou
Na minha porta havia uns cem pares de mãos
Todas se ofereciam para me ajudar
A me transformar, me libertar, me desabrochar
Na exata cópia delas.
quinta-feira, 11 de abril de 2019
Soturno
Olá, estranho ladrão
Sempre caminhando como um gato na noite
Com suas macias e silenciosas patas
Pisando em almas e sangue
Mais um pouco de vinho, por favor
Para aquele que não se embebeda
Uma salva de palmas
Para o mentiroso
Cantaria comigo
No meu mundo de fantasia?
Daria me a honra de uma dança
Na minha vida de mentirinha?
De choros e demolições
Você fez o seu trono
A minha prisão
As nossas cicatrizes
Em um oceano raso
Eu tento me afogar
Tento inutilmente cobrir
Os meu ouvidos com água morta
Para não escutar
O lamento de todos ao meu redor
Eu arranquei meus olhos
Comi a minha pele
Fiz instrumentos musicais
Com meus ossos e tripas
Para te tocar
Canções de amor
Que você não ouviu
Sempre caminhando como um gato na noite
Com suas macias e silenciosas patas
Pisando em almas e sangue
Mais um pouco de vinho, por favor
Para aquele que não se embebeda
Uma salva de palmas
Para o mentiroso
Cantaria comigo
No meu mundo de fantasia?
Daria me a honra de uma dança
Na minha vida de mentirinha?
De choros e demolições
Você fez o seu trono
A minha prisão
As nossas cicatrizes
Em um oceano raso
Eu tento me afogar
Tento inutilmente cobrir
Os meu ouvidos com água morta
Para não escutar
O lamento de todos ao meu redor
Eu arranquei meus olhos
Comi a minha pele
Fiz instrumentos musicais
Com meus ossos e tripas
Para te tocar
Canções de amor
Que você não ouviu