domingo, 30 de outubro de 2016

Parasita

Eu era a mais bela entre
E então você entra
Um caçador sujo de sangue
E você me suga

Seus olhos sem vida
Como um buraco negro
Impossível inatração
O calor do vácuo

O tempo alterado
Imaculado
Agora está imundo
Você me abafa

Meus lábios costurados
Minha pele grita
Estou nua numa caixa de acrílico
Um objeto arranhado

O sol me desbota
Minhas cores correm de mim
Me torno débil
Esqueci como respirar

Mil voltas ao redor do gólgota
Minhas costas se curvam
Eu temo a luz
Me alimento com os retos que você me joga

Você não me olha mais
Agora que eu me pareço o verne que você quis me tornar
Você foge como se eu o tivesse aprisionado
E já vai murchar outra flor

Eu grito de solidão
Meu corpo se esquece de como chorar para me proteger
O sol está se pondo
Eu vou morrer de frio no nosso deserto

Eu matei minha família por você
E você me aniquila
E se vai
Esvai

Você amaldiçoou o céu e a terra
Roubou de mim a vida e não a quis
Eu tenho medo de voar
Eu tenho medo de viver

E agora? O que faço?
Você me arrancou as pernas e os braços
Me furou um olho
E me disse que eu ficaria bem

Se falar mais uma vez que se importa
Eu lhe arranco seus pulmões
Você é um egoísta cego
Alguém sem alma

Você precisa matar para viver
Um escorregador para o precipício
Um ladrão de luz
Você merece esmorecer-se




sábado, 29 de outubro de 2016

Olhos secos

Deixou-me imortalizá-lo
Com meus dedos bêbados
Dançando por suas costas e cabelos
Como se nada fosse efêmero, nem mesmo nós.

Seus olhos me aprisionavam
Como se eu fosse única
Como se eu fosse magia
E eu sorri

Meus dentes na sua pele
O gosto do tempo morto
Ausência de queda
Ânsia

Meus sonhos num pingente de colar
Que queimavam como fogos de artifício
Enquanto todos dançavam na sala de jantar
Eu só queria ser sua

Como areia entre os dedos
Ele escorre
Para o ralo
A água ungiu minha cabeça, morri sufocada

O elo quebrado
Para sempre
O nunca é muito tempo
E choveu





quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Escudo de capim

Ele me olhou gentilmente e inclinou a cabeça.
Acho que não conhecia muitas pessoas como eu.
Disse-me que beleza é assimetria,
Assimétrico como meus anéis.

Olhou-me profundamente.
Estava me ensinando algo.
Ele quer me tornar o melhor que posso ser.
Não posso decpcioná-lo.

Sua boca sabia o que dizia.
Era como se só falasse poesia simétrica.
Meus olhos, porém, eram tortos.
Uso ferro nos dentes para me consertar.

Ele me tocou com afeto.
E eu não soube retribuir.
Eu o amo, mais do que deveria.
Ao mesmo tempo o temo.

Me abraçou gentilmente e me largou.
Ali se despediu e talvez não mais o visse.
Talvez nos encontremos amanhã.
Quando eu chegar em casa ele não vai estar lá.
E seria demasiado chamá-lo de pai.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

História inexistente sobre ninguéns

******
Este é o nome do filho que nunca vamos ter.
**
São os anos que nunca vamos passar juntos.

*** ****** *********, ***
Este é o endereço da casa que não será nosso lar.
**
São os países que a gente não vai conhecer juntos.

Aquele cachorro abandonado não será adotado por nós,
Além disso o nome dele nunca será ****.
Mas ele ficará bem,
Haverá quem amá-lo...

Lembra da vez que a gente ficou até as *h da manhã
Olhando as estrelas, no céu de *** ****,
Falando sobre nada?
Não?! Porque nunca acontecerá.

E aqueles ** gatinhos que eu não vou trazer pra casa,
E você não vai me olhar com raiva e compaixão,
Também não vai se perguntar o que vamos fazer com mais *, se já temos * e * cachorro,
Mesmo assim, você não sentirá que está com a melhor pessoa do mundo.

E a minha pele nunca terá seu nome em código morse
Aquele quadro horroroso, nunca o compraremos em *****
Ainda bem, porque ele te dará pesadelos que você nunca vai ter.
E nunca leremos o pior melhor livro do mundo.

Do que eu mais nunca vou sentir falta,
É que toda a vez que você não ia viajar
Não ficava um vazio na cama
E no café da manhã não terá nossas volúpias em cima da pia,
Como você não sabe que eu sempre gostei na cozinha.

********
Não vai ser o nome da menininha que não vamos adotar.
Quando ela não tinha * anos, o seu *º dente não caiu,
Você nunca o guardará como a sua maior riqueza.

E mais importante que tudo,
Quando eu já não tiver morrido e você quase não morrendo também;
Você não vai tentar recordar das minhas mãos no seu rosto.
Isto não te deixará extremamente feliz, fazendo uma lágrima de uma não vida bem vivida não rolar.

******
Eu não te amo

Hope Allie

Você anda por aí
Como gato em telhado,
Olhando as pragas
Consumirem nossos jardins.

Está satisfeito?
Não chove desde setembro,
Minha pele está mais seca
Que os seus olhos mortos.

Acha que sabe o que eu sei.
Mas o futuro é deliciosamente incerto
Moldado por mãos bêbadas
Num presente nostálgico.

Seu rosto está sendo consumido
Por magia negra.
Eu te avisei para não se meter
Com a rainha azul.

Meu corpo velho o espera na janela.
Ele nos prometeu que voltaria.
Como a promessa do deus morto.
Após a vida só há silêncio.

Eu preparei uma ceia para ele.
Mas até os vermes já se foram,
O sol, toda a manhã, vê-me na janela.
Qual foi a última vez que dormi?

O que está me olhando?
Nunca vai me perdoar?
Você pode ter meu sangue se quiser, mas só isso.

Vamos, entre.
Já está tarde.
Vamos, meus filho abortado,
Está na hora de dormir.

domingo, 9 de outubro de 2016

Amanhã II

 Caio de joelhos, uma reverência ao fracasso. Não! Eu não posso, não posso morrer aqui. Me deito ao chão. Olho o céu, nada além de nuvens que dançam um presságio apocalíptico. O solo que em minha pele tenta, em vão, achar conforto é coberto de pequenas pedras, que tentam perfurar minha pele. Eu cedo, o sangue escorre na terra seca.
  Meus lábios estão rachados, minha garganta seca. A única coisa úmida é o meu suor; como a esperança, a água tenta abandonar meu corpo. Respiro profundamente, o ar quase me gera uma crise de tosse. Então me levanto. Lá está!
  Já sem força, esperança ou se quer uma gota de sangue nas veias, eu me ergo. Eu ouço me chamar! Arrasto meus pés pelo chão, agora é a alma que move o corpo. Não há como nos separar, nem mesmo as ameaças da morte me intimidarão. Meu coração acelera e eu até choraria se pudesse. Peço aos céus, aos deuses, aos demônios; FORÇA! Como um questionamento de fé meu corpo tomba, sinto as pedrinhas atravessarem a pele de meu rosto. Me sinto tonta, como se eu fosse irreal. Meu corpo se destaca da terra e tudo gira.
  Tento mover meus dedos, inutilmente. Respiro lentamente. Não! Não pode acabar assim. Não! Ouço seu som, me esperando, está gritando por mim. Eu desisto? Chuva, só queria que chovesse agora.

sábado, 8 de outubro de 2016

Capítulo seguinte

Traição, luxúria
Um espelho
Prazer efêmero
Peito vazio

Vedado pela insegurança
Um deus se fez
Para adorar-te
Comer-te com os olhos

Meu coração é uma lua deserta
O que se é e o que se quer
Colidir
Morrer nos seus dedos

As bocas falariam
O vácuo da minha falta de interesse não propaga som
Olho o morrer de sede
Sorrio aliviada

Roupas e garrafas
Ar viciado como você
O seu cheiro em mim
Eu dentro de você

19
Tão sóbria que estava bêbada
Marcas de unhas
Psicológico abalado

Sozinha ou não
Nunca soubemos
Mas era nua
Como gostava de ser