domingo, 28 de novembro de 2021

Fantasia

É quarta mensagem

Eu ainda não entendi o que quer dizer

Há tantos papéis espalhados pelo quarto

E eu sou a atriz que os escolhe


Minhas cicatrizes cobertas com maquiagem

Eles aplaudem e se vão

Ninguém fica para me ver desfeita

Desembrulhada, jogada no chão


De saltos e joias

Pés calejados, corpo exausto

Os olhares embestados do público

E ninguém me perguntou como eu estava


Mãos diferentes passam por meu corpo

Copos diferentes passam por minha mão

Todos os dias um novo personagem

Todos os dias o mesmo roteiro


A chuva cai na minha língua

O gosto da água e da sujeira da cidade

O belo e o podre em minha boca

Vida e morte, eu sinto o gosto


Cabelos molhados, deixam meu rosto diferente

A roupa grudada em mim

Desvelando uma silhueta crua

Os pés enfiados numa poça de água suja


E eu me seco, me limpo,

Me escondo em tintas e tecidos

Para mais uma vez entreter

E receber aplausos de quem não me vê

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Nós sem nós

Tentei me afogar

Mas eu não conseguia respirar

Das coisas estúpidas que o meu corpo faz.


O grito do agoniado

Buscando a liberdade

A essência rompendo a pele

A parede aprisionado o corpo.


O desejo, a raiva, o medo

Dominando a vida

O cavalo adestrado

A cela, o vento.


De olhos nus

As mãos tateiam o chão

Descobrir, andar, viver.


Ar, paixão, ar

O gosto da brisa gelada na boca

Correr, andar, parar

Perspectiva.


Dor, a dor da agonia

O medo e a paixão

Dor e agonia

Falta e distância.


Tentei me afogar

Mas eu não conseguia respirar

Das coisas estúpidas que o meu corpo faz;