terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Café de natal

  Aqui dentro está tão quieto que posso ouvir meu coração bater, poderia; poderia se o barulho infernal de lá fora não chegasse aqui. Estão todos comemorando, embebedando-se, sendo humanos. Estou começando a me sentir só.
  É uma merda se sentir só, é mais merda ainda quando estão todos felizes lá fora. Esse cheiro nojento no ar,   essas pessoas nojentas por todo lado e esse barulho infernal. Acho que estou ficando velha e rabugenta. É natal, natal é uma merda.
  Mas não estou rabugentando por causa do natal, estou me sentindo só. Não me sinto nada bem, uma ressaca emocional. Estou vomitando meus últimos cafés, acho que os últimos cinquenta. Mas não importa o quanto eu vomite, acho que meu estômago sempre terá gosto se café. Eu odeio café.
  Estava chovendo, eu amo quando chove e eu não preciso sair; a chuva apaga todas as alegrias superficiais e enquanto embaça os vidros mostra sentimentos que não percebíamos que estavam ali. 
  Não quero falar nada. Acho que vou tomar um pouco de café, até me embebedar, até não ser mais natal. E logo depois vou vomitar, vomitar uns cinquenta cafés, vou me sentir mal, não irei contar a ninguém, depois vou ficar só vendo a chuva cair, me lembrando que não tenho o que comemorar e me sentirei tão infeliz e vou tomar café... Eu odeio café.
  

sábado, 15 de dezembro de 2012

...

  Minha vida se passando em gotas, compondo meu pequeno oceano. Reflete o céu acima de nós, todas as estrelas que você pode ver daqui por lá passaram; mas poucas ficaram paradas para serem vistas do chão.
  E a música feita por luzes chamou minha alma, e, minha alma chamou meu corpo. Então, estava dançando águas e sonhos. Não parei até não haver mais som algum, minha platéia era apenas uma estrela e meia, as outras estavam em outros oceanos. E percebi ali, que não precisaria de mais nada.
  É muito maior que nós, os céus e os oceanos, mas maior ainda é tudo o que não se vê e se sente. Deixe seu oceano limpo para que possa refletir a sua estrela o brilho que se recebe, tão limpo que se veja dois céus.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Nhé Nhé

  Não sei porque faço o que fiz. Um sentimento tão infantil, carente por qualquer atenção.

  "Há um psicopata dentro dessa casa, ele vai matar todos você." O que você faria? E se ele fosse você ou não? E se você soubesse quem fosse? E se não fosse ninguém?

  Somos escravos de nossa personalidade.
  Quebre o círculo.
  O que fazer?! Eu não quero ser como eu sou.
  Agora eu só quero fugir e fugir, por uma rua infinita, correndo até cair no chão sem forças. Fugindo, fugindo, fugindo de mim. Corra, maldita, corra. Foge dessa sujeira que você é.

  Meu corpo estirado no chão, duas gotas de suor frio caem. Minha irmã gêmea, uma sombra, sob meu corpo. E as pessoas passam, como se eu não existisse. Alguns pisam no meu corpo, outros desviam, mas ninguém olha. Tiraram uma foto minha com a multidão cega; vão usá-la para falar sobre a falta de compaixão humana, mas ninguém atrás da câmera fez algo. O que há de errado com o meu corpo?
  Eu comecei a chorar; porque você pode sangra até morrer, só vão se importar se você chorar. Chorei como uma criança, todos me olharam, me deram um palco, agora eu faço o show, todos me olham emudecidos pisando em todos os corpos vivos no chão. Eu falei de quando era um, e a compaixão humana aumento: agora olham para eles enquanto os pisoteiam ou desviam. O importante é que não sou mais parte do solo.

  Queria ouvir pensamentos de homens bons e de maus. Queria saber o que falta em um e onde o outro se esconde.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Neve

  Meus pés incessantemente me levando ao que eu fugia. A estrada destino foi um pouco cruel. E agora ando para frente, só que de costa. Meu corpo dói, tem sido uma jornada cansativa. Olho as montanhas cheias de gelos e histórias, um cenário lindo, mas frio. E tudo o que levarei disso são as memórias.
  Eu vim de tão longe, não me lembro de onde, era quente. Eu senti tanto medo quando acordei, mas eu só podia caminhar. E agora olhando tudo o que já andei e sem ver o que me aguarda, parece-me tão próximo um fim. E vendo daqui de cima não me parece tão ruim.
  A vida é uma merda, tão cruel, injusta. Um barco de areia num astuto lago, se desfazendo lentamente, desesperando tudo, tudo morre. As memórias não, mesmo que ninguém mais se lembre.
  Tudo faz silêncio na mente, então fecham os olhos e agem como um animal ou um computador. Então mais um passo, mais um remorso. Por essa estrada se anda de costa, e de costa é mais fácil tropeçar. No fim estamos dependendo de um tropeço para evitar o outro.
  E quando chegarmos? Pulamos de volta?
  Não se sabe quando se acaba.
  Tudo é uma merda.
  O fim é tão perto do começo, tão longe para meus pés. Só me lembro que eu era pequena, e achava que as coisas seriam pequenas quando fosse grande, então anda ao meu modo achando que construiriam estátuas à minha forma e o mundo era como eu imaginava, mas tudo é tão frio.
  Agora, tudo tão sereno, fechei meus olhos e parei de andar. Acho que já nascemos mortos, nos julgando tão vivos. Começou a nevar, a neve tão simpática, mata tão silenciosamente. Suas mãos quentes, ela parece com suas mãos quentes, mas é tão fria. Eu nunca vi a neve, devo estar dormindo.
  Voltei a andar. Tão devagar, me despedindo de cada segundo passado. Estamos todos morrendo.
   Queria morrer em suas mãos quentes.
  A neve cai devagar.
  E lá vem o sol.
  A neve cai, e não para.
  Você está tão frio.
  A neve cai sobre nosso corpo.
  E sob meus pés uma vida.
 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Esse não é o meu nome

  Nada em harmonia, tudo é barulho. O mesmo barulho infernal em outros tom, por todos os lugares, me perseguem. Eu odeio tudo isso.
  Calem a boca! Uma criança chorona e uma velha rabugenta, não vêem que são tolas? Oh, calem a boca, eu mandei calar a boca! Parem! Parem! Vocês me enlouquecem! Calem a boca agora! Mas vocês não conseguem se enxergar? São duas almas aprisionadas em um corpo instintivo. Calem a boca, não consigo me ouvir.
  Calem a boca e ouçam! Isso é um portão? Talvez seja o inferno se abrindo para nós. Estamos condenadas, mas há uma promessa. Talvez não haja nada. Parem de brigar, guardem essa voz para para gritar enquanto queimamos. Calem a boca! Mas que merda...
  Eu não consigo vê-lo mais, acho que já se foi. Disseram que ele sempre estaria comigo, mas ele já se foi, eu acho. Não sei, estou com vergonha de procurá-lo, acho que ele já se foi... Ele não irá voltar depois, perdi a confiança dele, eu acho. Mas eu ainda o amo, queria tê-lo aqui, queria ser ele.
  E você garotinha, pare de querer agrada á todos, isso é irritante. E mande essa velha maldita parar de me cobrar as coisas, eu não posso.
  Este não era o fim que eu desejava para nós. É tão triste ver tudo no chão, tudo é tão errado, parasse tão distante. E quem se orgulharia de mim agora? É frio e sozinho, a realidade. E é tão tolo, tão primitivo. Queria ficar sozinha no frio. Não era assim, não era assim que imaginei.
  E essa é a saída? Mais promessas? É só o que consegue pensar? Ah, me desculpe. A culpa não é sua. Mas hoje eu quero ver o meu rosto sem demônios no espelho.
  Agora elas se calaram, acho que está pior que antes. É mais fácil ouvi-las brigar do que ter que me ouvir. E onde achar fé? Onde está ela? Sinto falta delas, dela, de mim. Onde me encontrar? Está tudo tão vazio...
  Acho que era isso que eles falavam. Acho que experimentei isso, é como uma bolha de sabão, tão linda e tão vazia.