segunda-feira, 26 de junho de 2017

Aquele homem de segunda-feira

O que ele estava fazendo
Ali, num buteco 
No começo de uma noite de inverno 
Em plena segunda-feira?

Quem era aquele jovem homem
De pele avermelhada e bronzeada
Olhos negros e de cabelos grandes?
Quem era aquele?

Quem era aquela criatura bela!?!
Numa luz vagabunda
Rodeado de corpos que esvaziavam
E copos que se embriagavam

Qual o nome desse moço forte?
O que fazia ali sentado
Com um copo de bebida barata
Numa fria segunda-feira? 

Um deus reluzente, vivo 
Contrastando com o a cor do frio
Simplesmente sentando
Bebendo em um copo mal lavado

Mas por que diabos
Ele estava ali?
O que um homem vivo
Faz num buteco 
Em plena segunda?

quarta-feira, 14 de junho de 2017

O astronauta

Onde está o meu garoto espacial?
Ele morreu afogado
Em um lago de Titã

Ele deixou apenas as suas sombras
E uma foto no álbum

E o meu coração continua
Disparando
Toda vez que a mente o engana

Todos os dias eu morro sufocada
Todos os dias minhas lágrimas congelam
Todos os dias

Ele não habita mais esse universo
Mas ainda o procuro em cada átomo
Procuro os seus olhos em cada estrela

Talvez a respiração dele faça ondas no mar
E todo canto de pássaro livre seja o seu riso
Quem sabe ele ainda se lembra de casa

Ele está inabitável
Eu estou nadando no vácuo

Os contornos do rosto dele
Continuam guardados nos meus dedos
Eu o esculpo ar

E procuro uma lua
Para me afogar também

domingo, 5 de março de 2017

Como morrer

A promessa
E a cicatriz
O sangue escorre

Lentamente
Pela boca
Do fantasma

O perfume
Não mais
Tão doce

As mãos
Tocam
Um rosto

Frio
E macio
Sem vida

Se rompe
Desmorona
Silêncio

A pergunta
Foi feita
...

Agora é tarde
Para fingir
Que está tudo bem



?N

O rato no labirinto com um queijo imaginário.
A esperança é um crime que se paga com a vida
É apenas um brinquedo dos deuses
Estamos correndo dos nossos próprios fantasmas...
 

quarta-feira, 1 de março de 2017

End up

Ainda estamos conectados
Não pode sentir?
Eu posso ouvir você chorando a noite
Ah, não, essa era eu.




segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Simples em negrito

Ele agia como se soubesse
Exatamente o que estava fazendo
Eu era uma criança brincando de ser
Adulta como a noite.

Tampou minha boca umas três vezes
Quando comecei a rir
Já era tarde para poder
Voltar para a casa...

Seus olhos me aprisionavam
Em paredes
Eu estava encurralada
Por vontade própria.

Eram mais de 5
Da manhã quando você perdeu
A paciência que me faltava
Para entender seus jogos tediosos.

Meus dedos deslizavam
Na sua barba áspera
Arranco alguns fios
Para tecer um corda para fugir.

De você
Para mim
O sono mata
Qualquer sentimento bom.

Se acaba
Antes mesmo de ter fim
A noite já faz manhã
Para os despertadores tocarem.

Só faltavam mais outros 5
Dias para completar o mês
Mais engraçado
Era a sua cara.

De dor
Que me deu
Só de pensar que estava muito cedo
Mesmo sendo tarde.

Para me despedir
Depois de me despir
Faltou coragem
E te dei um beijo.

Frio e violento
Era aquele dia de inverno que
Nos conhecemos
Há tantas horas.

Que já cheguei
Em casa
Silenciosamente
Para poder dormir.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Lust

Você diz que eu não sei o que quero
Mas sei que quero você
Eu continuo imaginando suas mãos
Firme e suave escorregando pelo meu pescoço

Você me olha como se nada fosse efêmero
E me tateia como se eu fosse escultura para cegos
E eu fecho os olhos
Porque não estou com medo

Sua voz me ouriça
Minha boca é um ímpeto de desejo
A vida se resume no presente
E você põe-se a ofegar, a me ofegar

Não muito longe o relógio marca 3h
Mas ninguém pode ouvi-lo tic-taquear
A lua se acalma
Adormecemos.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Oi, tudo bem?

Você faz a escolha
E eu a consequência
Eu realmente espero que você esteja feliz
Um de nós tem que estar

Eu continuo te procurando em outros sorrisos
Em outros braços e vozes
Mas cada ser é exclusivamente único
E nem você é mais quem eu busco

O fluxo foi rompido
Todos os céus desabam sobre mim
E eu espero que você esteja feliz
Enquanto eu ouço meus ossos quebrarem sob o peso

Não estamos mais na mesma dimensão
E você não se importa
Você só quer poder dormir bem
Só não quer ver meu rosto quando fecha os olhos

Você me deixou aqui para morrer
Eu sou o cachorro que foi abandonado longe de casa
Eu sou o mártir
E você só quer poder dormir

Mas a vida é um oceano sem vento
Quem sabe onde estaremos amanhã?
Quem sabe eu não possa sentir novamente?
Eu só espero que você esteja feliz



sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Querida V

Olhe mas não toque
Frágil
Este lado para cima
Cuidado

Embalado em pureza
Para você corromper
Cristais
Para você quebrar

Não pode ser remendado
Não há conserto
Está inutilizável
Não se recicla, não se decompõe



A Distopia de Brígida

Eles mentiram para nós
Não há nada após o muro
Apenas outdoors com fotos 
De hambúrgueres que nem existem

Você dedicou sua vida à nada
Já pode se considerar um trouxa inútil
Já pode se viciar em qualquer futilidade
Pra fugir dessa merda de realidade

Você não sabe lidar com a verdade
Vão colocar correntes em seus lábios
Vão te amarrar em tecidos úmidos
Porque você é um bosta

Eu diria até que te amo
Mas eu nunca vi isso
Vamos gritar um com o outro
Até morrermos de insanidade

Por você me tome
Eu preciso ser arrebatada 
Antes que sucumba no tédio
Consuma minha mente,
Devore até meus ossos

Estou perplexa
Estou perplexa
Vou morrer de excitação 
O medo corrói a alma

Fallsto

Está tudo morto
Na mesa do jantar
Cadáveres
Que oxidam o ar

Enxofre e ferrugem
O podre e a pedra

Nada sacia
A água foge da boca
Escorre pelos pés
Como o sangue do seu aborto

Se arranha inutilmente o nada
Tentando inutilmente impedir a queda
Que é inutilmente sem fim

Morto por dentro
Seus olhos vertem pelo nariz
Um rio que flui para o vazio
Como sua alma escusada

Nada preenche o vazio
Seco
Sufocada
Esperando num caixão