quarta-feira, 30 de março de 2016

Para um certo covarde

Mas meus dedo estará apontando para você.
Todas as rachaduras na parede são sua culpa,
Se esse navio afundar eu vou dizer o seu nome.
E não me traga um espelho, porque eu o quebrarei na sua cabeça.

Se os vizinhos começarem a comentar eu vou me vitimar.
Quando os corpos começarem a feder, já sabe quem será incriminado.

E não me venha com represálias
Porque você, covarde, me deixou aqui sozinha.
Éramos uma dupla e você me abandonou
Fugiu como um cão medroso.

E agora, eu espero que essas prostitutas e todo o dinheiro
Preencha o vazio que eu deixarei no seu peito.
Só preciso de um dedo
Para te fazer me esperar no inferno.



terça-feira, 29 de março de 2016

Música para surdo, Quadro para cego

Tudo o que você pode me dar
É tão pobre de alma
Que qualquer um
Poderia me oferecer.

Todo o calor que me gera
É tão coitado
Que não sei se me dá pena
Ou asco.

Todo amor que me promete
É tão débil
Que me faz perder a fé
Na humanidade.

Todos os olhares que me reserva
São tão miúdos
Que até me apequena
A auto estima.

Todos os sorrisos que me presenteia
São tão tacanhos
Que me questiono
Se no inferno não seria eu mais útil.

Me elogia tão escassamente,
Me consome como um avarento,
Se comunica como uma pedra
E me beija com pressa.

Mas tem paciência para não me sentir.
Virtudes para me ignorar.
Vigor para se calar.
E energia para não se envolver.

Por quê?
Eu só me pergunto
Por que
Não vai te embora?

segunda-feira, 21 de março de 2016

Invisível, mas faz sombra

Sou dilacerada;
Uma alma sem paz.
O tempo é entropia
Meu corpo expira na dor.

Sou errante.
Nem sei meu nome.
O medo sucumbe a ação,
E só sobra um cheiro de tristeza.

A luz fria penetra minha carne
Como quem rouba um morto.
E os corpos sem almas e as almas sem rostos
Passam por mim e não me percebem.

Minha matéria grita
Mas não provoco som.
Minha cerne perece
Mas minhas ruínas continuam sofrendo.



segunda-feira, 7 de março de 2016

Feia

Eu não caibo.
Não.
Não sirvo para usar essa roupa.
Essas palavras não ficam bem na minha boca.
O espelho não gosta de me refletir.

Eu não me enCAIXo.
Não fico bem ao lado dele.
Minha bunda não foi projetada para as cadeiras que usam no natal.
Eu estrago as fotos em família.

Meus dedos não foram desenhados para usar anel.
Meu rosto enfeia qualquer óculos.
Meus pés deterioram qualquer sapato.
E sei que não tenho os ombros certos para usar tomara que caia.

Meus lábios pervertem qualquer batom.
Os olhos... degradam qualquer maquiagem.
Meus cabelos prejudicam qualquer corte.

Eu destroço tudo o que falo.
Devia calar a boca mais vezes.
Tudo o que eu digo é inútil.

Minha unhas danificam qualquer esmalte.
O formato do meu rosto não se ajustam a nenhuma máscara.

Eu corrompo tudo o que toco.
Eu deturpo tudo o que visto.
Eu desperdiço o tempo de quem me ouve.
Eu firo e magoou todos que me olham.

O fato de eu existir prejudica todo o universo.
Eu repilo os átomos que não são meus.

Eu preferia não existir.

domingo, 6 de março de 2016

Insegurança

Por que você não se curva perante mim?
Por que não me idolatra?
Por que a sua casa não é repleta de imagens minhas?
Você me ama?

Por que você não me abraça como se eu fosse a única coisa boa no mundo?
Por que não acaricia meus cabelos como se fossem fios do seu destino?
Por que não toca minha pele como um delicioso tecido raro?

Por que não é viciado em mim?
Por que não deixa meu cheiro te enlevar?

Por que não me decora como uma prece religiosa?


Me sufoque de enaltecimentos.
Me trate como sua divindade.
Me cultue, por favor.

Eu te suplico;
Me preze!
Me venere!
Me estime!


Eu só quero me sentir segura.