sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Em outro

E isso é tudo?
Cinzas em vasos de flores
A chuva que cai para o céu
A nuvem atrás da lua.

O gosto do vinho.
Afogando-me em risadas abafadas
Eu toco seu rosto áspero.
Sua barba entre meus dedos.

A sua ausência
Um fantasma agridoce
Meus olhos secos
E o vinho tinto.

A baleia
Desprazer
Tudo foi quebrado
E começou a entropia.

Meu monstro fugido
Meus sonhos roubados
Nada além da poeira restará
A morte nos aguarda.

Uma alma rejeitada
Coração solitário
O grito da vítima
Silencioso veneno.

Arranque-a pela raiz
Ponha em água morna
Cante canções doces até que adormeça
Então a mate.


sábado, 12 de novembro de 2016

Vassala I

O tempo engole
Escorro pela garganta
Esfolando minhas mãos 
Numa parede áspera, mas sem aderência 
Tentando inutilmente controlar a queda

O medo quer brincar de cabo de guerra
Eu versus eu
Me corpo se contrai
Eu sou a cobra que mordeu a própria cauda

O vento me bate com grãos de areia
Que cortam meu rosto, secam meus olhos
Isso não é mais um jogo
Esta é a guerra que eu vou morrer (?)

300 contra uma
Eu já me preparo para me render
Mas o destino quer me ver sangrar
Me cede um elmo e me empurra para os leões

Cortam-me a pele
Nenhum sangue escorre
Não há como matar uma morta
Isso lhes assusta?

Silêncio, então
Respiro como se fosse a última vez
Meus olhos quase sonolentos avistam
Estão chegando...
Quem?




domingo, 30 de outubro de 2016

Parasita

Eu era a mais bela entre
E então você entra
Um caçador sujo de sangue
E você me suga

Seus olhos sem vida
Como um buraco negro
Impossível inatração
O calor do vácuo

O tempo alterado
Imaculado
Agora está imundo
Você me abafa

Meus lábios costurados
Minha pele grita
Estou nua numa caixa de acrílico
Um objeto arranhado

O sol me desbota
Minhas cores correm de mim
Me torno débil
Esqueci como respirar

Mil voltas ao redor do gólgota
Minhas costas se curvam
Eu temo a luz
Me alimento com os retos que você me joga

Você não me olha mais
Agora que eu me pareço o verne que você quis me tornar
Você foge como se eu o tivesse aprisionado
E já vai murchar outra flor

Eu grito de solidão
Meu corpo se esquece de como chorar para me proteger
O sol está se pondo
Eu vou morrer de frio no nosso deserto

Eu matei minha família por você
E você me aniquila
E se vai
Esvai

Você amaldiçoou o céu e a terra
Roubou de mim a vida e não a quis
Eu tenho medo de voar
Eu tenho medo de viver

E agora? O que faço?
Você me arrancou as pernas e os braços
Me furou um olho
E me disse que eu ficaria bem

Se falar mais uma vez que se importa
Eu lhe arranco seus pulmões
Você é um egoísta cego
Alguém sem alma

Você precisa matar para viver
Um escorregador para o precipício
Um ladrão de luz
Você merece esmorecer-se




sábado, 29 de outubro de 2016

Olhos secos

Deixou-me imortalizá-lo
Com meus dedos bêbados
Dançando por suas costas e cabelos
Como se nada fosse efêmero, nem mesmo nós.

Seus olhos me aprisionavam
Como se eu fosse única
Como se eu fosse magia
E eu sorri

Meus dentes na sua pele
O gosto do tempo morto
Ausência de queda
Ânsia

Meus sonhos num pingente de colar
Que queimavam como fogos de artifício
Enquanto todos dançavam na sala de jantar
Eu só queria ser sua

Como areia entre os dedos
Ele escorre
Para o ralo
A água ungiu minha cabeça, morri sufocada

O elo quebrado
Para sempre
O nunca é muito tempo
E choveu





quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Escudo de capim

Ele me olhou gentilmente e inclinou a cabeça.
Acho que não conhecia muitas pessoas como eu.
Disse-me que beleza é assimetria,
Assimétrico como meus anéis.

Olhou-me profundamente.
Estava me ensinando algo.
Ele quer me tornar o melhor que posso ser.
Não posso decpcioná-lo.

Sua boca sabia o que dizia.
Era como se só falasse poesia simétrica.
Meus olhos, porém, eram tortos.
Uso ferro nos dentes para me consertar.

Ele me tocou com afeto.
E eu não soube retribuir.
Eu o amo, mais do que deveria.
Ao mesmo tempo o temo.

Me abraçou gentilmente e me largou.
Ali se despediu e talvez não mais o visse.
Talvez nos encontremos amanhã.
Quando eu chegar em casa ele não vai estar lá.
E seria demasiado chamá-lo de pai.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

História inexistente sobre ninguéns

******
Este é o nome do filho que nunca vamos ter.
**
São os anos que nunca vamos passar juntos.

*** ****** *********, ***
Este é o endereço da casa que não será nosso lar.
**
São os países que a gente não vai conhecer juntos.

Aquele cachorro abandonado não será adotado por nós,
Além disso o nome dele nunca será ****.
Mas ele ficará bem,
Haverá quem amá-lo...

Lembra da vez que a gente ficou até as *h da manhã
Olhando as estrelas, no céu de *** ****,
Falando sobre nada?
Não?! Porque nunca acontecerá.

E aqueles ** gatinhos que eu não vou trazer pra casa,
E você não vai me olhar com raiva e compaixão,
Também não vai se perguntar o que vamos fazer com mais *, se já temos * e * cachorro,
Mesmo assim, você não sentirá que está com a melhor pessoa do mundo.

E a minha pele nunca terá seu nome em código morse
Aquele quadro horroroso, nunca o compraremos em *****
Ainda bem, porque ele te dará pesadelos que você nunca vai ter.
E nunca leremos o pior melhor livro do mundo.

Do que eu mais nunca vou sentir falta,
É que toda a vez que você não ia viajar
Não ficava um vazio na cama
E no café da manhã não terá nossas volúpias em cima da pia,
Como você não sabe que eu sempre gostei na cozinha.

********
Não vai ser o nome da menininha que não vamos adotar.
Quando ela não tinha * anos, o seu *º dente não caiu,
Você nunca o guardará como a sua maior riqueza.

E mais importante que tudo,
Quando eu já não tiver morrido e você quase não morrendo também;
Você não vai tentar recordar das minhas mãos no seu rosto.
Isto não te deixará extremamente feliz, fazendo uma lágrima de uma não vida bem vivida não rolar.

******
Eu não te amo

Hope Allie

Você anda por aí
Como gato em telhado,
Olhando as pragas
Consumirem nossos jardins.

Está satisfeito?
Não chove desde setembro,
Minha pele está mais seca
Que os seus olhos mortos.

Acha que sabe o que eu sei.
Mas o futuro é deliciosamente incerto
Moldado por mãos bêbadas
Num presente nostálgico.

Seu rosto está sendo consumido
Por magia negra.
Eu te avisei para não se meter
Com a rainha azul.

Meu corpo velho o espera na janela.
Ele nos prometeu que voltaria.
Como a promessa do deus morto.
Após a vida só há silêncio.

Eu preparei uma ceia para ele.
Mas até os vermes já se foram,
O sol, toda a manhã, vê-me na janela.
Qual foi a última vez que dormi?

O que está me olhando?
Nunca vai me perdoar?
Você pode ter meu sangue se quiser, mas só isso.

Vamos, entre.
Já está tarde.
Vamos, meus filho abortado,
Está na hora de dormir.

domingo, 9 de outubro de 2016

Amanhã II

 Caio de joelhos, uma reverência ao fracasso. Não! Eu não posso, não posso morrer aqui. Me deito ao chão. Olho o céu, nada além de nuvens que dançam um presságio apocalíptico. O solo que em minha pele tenta, em vão, achar conforto é coberto de pequenas pedras, que tentam perfurar minha pele. Eu cedo, o sangue escorre na terra seca.
  Meus lábios estão rachados, minha garganta seca. A única coisa úmida é o meu suor; como a esperança, a água tenta abandonar meu corpo. Respiro profundamente, o ar quase me gera uma crise de tosse. Então me levanto. Lá está!
  Já sem força, esperança ou se quer uma gota de sangue nas veias, eu me ergo. Eu ouço me chamar! Arrasto meus pés pelo chão, agora é a alma que move o corpo. Não há como nos separar, nem mesmo as ameaças da morte me intimidarão. Meu coração acelera e eu até choraria se pudesse. Peço aos céus, aos deuses, aos demônios; FORÇA! Como um questionamento de fé meu corpo tomba, sinto as pedrinhas atravessarem a pele de meu rosto. Me sinto tonta, como se eu fosse irreal. Meu corpo se destaca da terra e tudo gira.
  Tento mover meus dedos, inutilmente. Respiro lentamente. Não! Não pode acabar assim. Não! Ouço seu som, me esperando, está gritando por mim. Eu desisto? Chuva, só queria que chovesse agora.

sábado, 8 de outubro de 2016

Capítulo seguinte

Traição, luxúria
Um espelho
Prazer efêmero
Peito vazio

Vedado pela insegurança
Um deus se fez
Para adorar-te
Comer-te com os olhos

Meu coração é uma lua deserta
O que se é e o que se quer
Colidir
Morrer nos seus dedos

As bocas falariam
O vácuo da minha falta de interesse não propaga som
Olho o morrer de sede
Sorrio aliviada

Roupas e garrafas
Ar viciado como você
O seu cheiro em mim
Eu dentro de você

19
Tão sóbria que estava bêbada
Marcas de unhas
Psicológico abalado

Sozinha ou não
Nunca soubemos
Mas era nua
Como gostava de ser

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Amanhã I

  Olho para um céu sem esperança. Então agora me foco no chão que piso, uma terra amaldiçoada. As correntes que eu mesma me prendi não são mais suficientes. Sim! Está lá, está me chamando. É meu e ninguém pode nos separar, nem mesmo eu.
  Agora é a hora, como um filhote de guepardo manco aprendendo a correr eu vou, olho para trás e vejo cair em ruínas a minha terra prometida. Uma errante eu me torno, melhor assim, é o impulso que faltava para eu chegar lá.
  Meus pés sangram, não tanto quanto eu gostaria. Por dentro, meu corpo frágil sofre, grita e quer descansar. Seco meu suor do rosto e continuo a correr, corro de mim mesma, eu sei que morrerei se não chegar até lá. Está me chamando, está gritando por mim. Nós nos pertencemos, estarei em paz apenas quando chegar lá. Nada, nada é mais importante do que nos unir. Meus olhos se fixam lá, como uma águia faminta em sua presa. O vento tenta me parar, porém isso apenas alimenta minha alma. 
  Eu ouço vozes pedindo ajuda, vejo mãos estendidas e olhos sem vida. Eu não posso fazer nada por eles, tudo o que tenho é meu corpo fraco e vontade de correr. Eu não carregarei ninguém! Essa é a minha jornada, não é por egoísmo, é por amor a nós. Eu choro ao perceber que a distância é maior do que meus pés aguentam. Eu não desisto; andarei com as mãos, me arrastarei, chegarei lá mesmo que me custe a vida. 

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Para um certo monstro

Você é a luz morna numa noite fria e escura
Eu não sei se você sabe,
Mas não há como não se apaixonar
Pelas suas esquisitices

Quando você ri
Eu até acredito na paz no mundo
Seus olhos são tão doidos
Eu me perco na sua doce aventura

Não tenha medo de você
Todas as suas possibilidades
São maravilhosamente únicas

Você é como a forma mais bela de uma nuvem
A efemeridade de algo que se deve ser visto sem pressa

Não pense que todos vão entender sua beleza
Você uma maravilhosa sinfonia esquecida,
Só pode ser apreciadx por quem entende sua beleza
E só é entendidx por quem te sente

Você é a pessoa mais linda que já existiu!
Não tente caber numa caixa
Você imensamente maior que isso

Eu te amo pelo que você é
Pelos seus dentes assimétricos
Pelo seu choro irritante
Por seus abraços longos

Você é maravilhosamente você 
Meu doce pudim de pepino <3 div="">

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O consumiDOR

Eu voltei para a casa
Fedendo a solidão
Dele eu era veniaga

Consumidor
Um exímio vinho
Num copo de bar sujo

E bêbado partiu
Para cair no chão
Maculou a rua

Seu corpo
Orgânico mecanizado
Mal sabia respirar

Ali eu arrefeci
Como animal que
Se finge de morto

Sua mãos
Tão leves
Me aprisionavam

Não quis partir
Não quis ficar
Só inexisti

No frio
Seu corpo quente
Era aconchego

Ele possuía
Cada átomo
Meu

Dele
Escrava
Eu era

Eu, então
Uma máquina
De servir



terça-feira, 23 de agosto de 2016

Presságios de ontem

Todo tempo
Eu quero que o mundo acabe
E só sobre
Os gritos de uma nação em dor

Meu sangue é tão aguado
Que foge das minhas veias
Diretamente para as bocas
Que me regurgitam

Eu cedo
Minhas cordas vocais
Não aguentam tanta
Pressão

Com os dedos
Cravados na palma da mão
Escorre a seiva
Para debaixo da cama

Dos nove olhos que me vigiavam
Meu corpo em negro
Nu foi visto
Queimar até a cerne

Dedos que dançavam
Pelos muros
Um grito
Mortos antes de nascer


domingo, 21 de agosto de 2016

Tá foda

Eu sinto sua falta
E nem estou bêbada

Eu daria meus pés e mãos
Para te ver só mais uma vez

Eu sou um pedaço de nada
Um erro maldito
E você me abandonou
Eu também me abandonei

E agora eu sou uma criança drogada
Que canta e dança em festas
Mas choro sozinha na escuridão da noite
Porque eu sou vazia

E quem se importa?
Hahaha!
Quem nessa porra de vida se importa?

Eu sou apenas
Um lixo
Um erro
Um medo

Eu não tenho nada!
Absolutamente nada
Para dar ou receber

Tudo o que eu tinha jazeu

E quem ficou?
Ninguém
Nem eu

sábado, 20 de agosto de 2016

Até quando?

Eu sinto tanto a sua falta
Mais do que eu sentiria do ar que respiro
Eu preciso de você
Mais do que preciso de água ou comida

Todo dia eu me perco mais
Em meus próprios labirintos
Eu passei duas horas olhando para minhas mãos
Buscando sua textura nela

O som da sua voz
Vai morrendo da memória
Junto com a minha sanidade

Eu tento preencher os espaços que você deixou
Desesperadamente, com qualquer coisa
Mas eu continuo incompleta
Vazando, inundando um chão com lágrimas
E me afogo no meu sangue

Meu rosto vazio
Desconectado do meu reflexo
Eu me assusto com minha emoções
Porque eu já não sinto mais nada

Eu não estou aqui
Eu não estou em lugar nenhum
Eu não existo mais
Eu sou apenas um corpo vazio

Eu quero morrer
Esmagada por um trem impiedoso
Cair do prédio mais alto

Eu não tenho mais vontade de viver.

sábado, 13 de agosto de 2016

Ecos de vácuo


Eu me traí
Tantas vezes
Só para não ser
Um esteriótipo de mim

Eu até me apaixonei
Pela solidão
Que foi consequência
De não saber sentir

Me embebedei
Com lágrimas
Silenciosas
E agressivas

Eu me fiz
Sangrar
Pela boca
Fechada

Nada enxerguei
Com os olhos bem abertos
Só vi vultos que dançavam
Presságios indecifráveis

Eu me beijei
E não senti
O presente é morto
Como minha pele

Percebi me
Vazia
Tal qual
Deus

Vomitei
Toda minha essência
Num rio
Que é veloz

Mas ainda resido
Embaixo das minhas unhas
De terra e medo
Que decompõe a minha alma.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Ecnomiohyla rabborum

Você está fardada a solidão, garota.
Quando vai perceber?
Você está perdida em um labirinto de pessoas que não podem te enxergar.
Você vai morrer caindo em uma piscina sem água.

Você inexiste como sempre inexistiu.

Tome essa pílula
Porque você vai morrer sozinha
Você é fria como o inferno
Sua pele queima quem se aproxima

E toda vez que
alguém olhar nos seus olhos
será apenas para procurar
o próprio reflexo.

Uma peça sem quebra-cabeça.


quinta-feira, 28 de julho de 2016

Amor prórpio

Você sempre vai me ter
Como uma cadela
Que espera qualquer pedaço de carne
Ser jogado no chão

Só estale os dedos e eu voltarei
Correndo e sorrindo
Como uma boa cadela
Sem nem pensar


segunda-feira, 25 de julho de 2016

Sussurro oprimido

Eu só queria fugir de você
Mas ao invés disso 
Eu fico aqui parada
Olhando você me corromper

Continuo procurando o conforto
Nos seus espinhos venenosos
Não consigo evaporar me
As paredes do seu corpo são muito densas

Cavo me nessa solidão compartilhada
Morrendo todo dia nos seus lábios
Quando abro os olhos eu desejo ver outro rosto
Então sorrio falsamente

E os seus olhos
Tão demoníacos
Me prendem
Com cordas feitas de minhas veias

Atuo tanto que já não há personagem

Você é só uma ponte para o nada

Tire suas mãos de meu rosto

Você respira quadros de exposição

Eu sou o piano de decoração da sua sala
Você só me usa para apoiar suas xícaras de café
Eu estou esperando você me jogar pela janela
Minhas teclas farão barulho quando eu estraçalhar no chão
Até lá eu permaneço muda, sem cor e sem moção








domingo, 24 de julho de 2016

Casa

De volta ao inferno
As coisas boas flutuam como cinza
A liberdade é efêmera, querer fugir é eterno
Agora me encontro presa por paredes rachadas.

O som morno de vozes diferentes transformam-se em gritos conhecidos
O ar leve e fresco foi trocado por flechas que cortam meu rosto
O céu tão límpido está coberto por um véu acinzentado
Meus risos tão felizes são lamentos agora.

Se eu pudesse eu correria daqui para não mais voltar
Mas tenho um cordão umbilical de elástico
Que me puxa de volta para o chão
Toda a vez que eu voo alto

Fardo?
Eu espero o dia
Contando as horas
Para poder não voltar




quinta-feira, 9 de junho de 2016

Buracos no vento

Uma em um milhão
Uma de uma espécie
Uma de várias de mim

Meus osso espalhados pela mesa de jantar

Sem olfato
Ando esbarrando na vida
Tropeçando no meu reflexo

A cada hora crianças morrem

Mato-me
Aos poucos
Aos fatos

Sonhos numa bandeja privada

Sobreviver sem existir
Dedos num pote de conserva
A cor de mofo nos sapatos

A dor presa numa caixa

domingo, 5 de junho de 2016

Desabafo em verso

Você já tinha se livrado de mim antes mesmo de dizer adeus.
E eu disse adeus sem me livrar de você
Você continua no meu corpo
Você é as minhas memórias, meus pensamentos.

Eu não entendi o porquê de você ter chorado
Você achou a saída desse labirinto infernal
Eu deveria ter saído quando tive minha chance
Seria você a queimar agora, e não eu.

Me sinto autoinsuficiente
Você era tudo o que eu tinha
Uma promessa de nada

Você é só um mentiroso
Só um homem que usa as pessoas
Você só se importa com você

E então, por que estou me lamentando?
Você que devia chorar minha ausência!
Eu não acho justo eu estar aqui me fudendo.
Eu já achava nosso relacionamento uma merda há muito tempo,
Eu estava sofrendo bem antes de você notar isso!
Por que eu continuo me fudendo?
Por que você está aí seguindo em frente?
E eu estacionada, chorando por um merda, dispensando qualquer cara (e alguns eram bem mais bonitos que você!) pois ainda sinto algo por você.

Seu lixo de merda!
Eu te odeio
Me odeio por te odiar
Porque o ódio é o irmão gêmeo do amor
E eu queria sentir indiferença

Mas eu estou ouvindo músicas deprimentes
E falando como sofro pra todo mundo
Eu só quero esfregar na sua cara que estou bem
Mas isso é mentira


Entre vidros


Meus cabelos dançam embaixo d'água
E eu continuo caindo
A luz atrás de mim
Cada vez mais longe

Meus pulmões gritam
Desacelero
Desvaneço
Não sou mais sólida, sou solitude

Eu ainda posso ouvi-lo
Ele canta sobre uma época simples
Mas na queda não há percepção de tempo
O exílio de si

Apenas desabo
Enquanto olho você me apagar
Eu tento arranhar seu rosto
Mas você é a miragem através do vidro

Você pode me ouvir gritar?
Pode ver meu corpo tremer?
Se eu arrancar os meus olhos
Você os colocaria na estante?

Incomunicação
Eu continuo a sucumbir
Você me olha desaparecer
De dentro do seu aquario

domingo, 29 de maio de 2016

Adeus, menino utópico

Eu não amo você
Eu amo alguém que não existe
São fantasias que criei para te suportar
Elas são tão vivas quanto o que você sente por mim.

Você é apenas um amigo imaginário
E como todos os outros você morrerá quando eu o compreender
Eu achava que tinha medo de te soltar
Agora vejo que estive agarrando o vento, você nunca existiu de verdade.

Os dias passarão, e entenderei que assim foi melhor
Nós dois merecemos algo maior.
Que os ventos te apontem para bons caminhos,
Já não há nada que você possa me dar.

A solidão irá me polir,
Tenho coisas para aprender
Que só a dor ensinará
Deixe o sangue escorrer.

Eu sei que o mar trará presentes
Ele te trouxe, querida ilusão
Também trará algo concreto
Quando for a hora.

A cada dia você me machucará menos
Seu corpo, agora sólido, se transformará em areia
E depois em fumaça.
Quando estiver evaporado eu estarei pronta.

Então, aqui, uma prévia de adeus.
Que falo para mim, apenas.
Você nunca esteve cá.
Pré-adeus para você que só existe em mim.


quinta-feira, 26 de maio de 2016

Autoquíria


Meus lábios, pés e costas
São seus
Eu não sei o que fazer comigo
Meu corpo e espírito morrem e renascem para morrerem novamente

Todos os dias
Um golpe no peito
Meu corpo nu num deserto
A areia áspera na minha boca

Faleço no seu colo
De um você que imagino
Você não está aqui
Eu já nem sei se eu estou também

A pele arde
Mas não sinto dor
Não sinto fome
Todo meu sentir morreu

Eu regurgito uma fumaça negra
Ela me recobre
Envolve me em uma bolha
Eu ouço a vida acontecer lá fora

Dos meus cacos, cinzas e fumaça
Não reconheço essa pessoa no espelho
Tudo o que posso ver é sua ausência
Só ouço o silêncio que você provoca

A solidão
Não tenho para onde voltar
Errante, despida e fraca
Morrerei sem te afetar

A vida depois de nua

Quem sou ela?
Ele/Ela/Elx
Escolher
Gostar
Suicídio

Caminhos
Direita, centro
Lado, Reto,
Faça uma curva suave
Morte

Vários nada
Marcas
Slongans
Led, Led, Led
Autoextermínio

Cabelo
Roupas
Meias
Sapatos
Abaixo do chão

O que tem pra comer?
Veneno
Terra
Dor
Decesso

Livros
Opiniões
Quanto vale a palavra?
Olhos, olhos e um ouvido
Autoquíria

Espelhos para quem?
Nua como não se pode ser
Verme que come a alma
Pele é roupa indecente
Autodestruição

Medo
Sono
Mente vulnerável
Corpo coberto de pó
Fim.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

domingo, 8 de maio de 2016

Socorro

Eu não sei quem sou eu
Tudo o que tenho é o meu corpo
Uma dor insuportável no peito vazio

Eu estou nua num deserto 
Andando como uma bêbada 
Num chão áspero
Eu não vejo nada

Não sei o que eu estou fazendo
Eu só queria te odiar
Queria querer te magoar
Eu nem sei se você sangra

Eu estou tão confusa
Socando os móveis da sala
Me debatendo e gritando
Afogo-me em minhas lágrimas

Eu quero que todo mundo vá se foder
Eu quero que você morra 
O que eu estou dizendo?
As girafas a minha volta não estão barulhentas

Eu não sei quem sou eu
O que eu sou?
O que estou fazendo?
Alguém me dê um soco forte, por favor

Calem a boca
Eu me lembro de você
Tão anestesiado 
Meu corpo arranhado e sangrando

Tudo tão confuso
Onde eu estou?
Alguém me tire de mim
Onde está você?


sábado, 30 de abril de 2016

Fotografias aleatórias

Temo
Amo
Temo

Nós
Eu
2

Pés
Olhos
CUspe

Eu

Você(s)

Ah
Seu rosto
Aliviado

Meu
Corpo
Sozinho

Você é frio
Você egoísta
Você é meu

Te quero
Numa caixa
De não existência

Temo
Amo
Te amo

Reação

Meu, seu, nosso.                                      Seu.
                               Dele.



Eu.                                                         /
                                                                                             Você.

Mi
M
   M    e
                        s
     M            a.                                            









                                                                                                              Seu.

         Dele.
                                         Meu?


Onde              está
             ele?
                                                                                                   Sem
                                                                                                      N                                 T
                                                                                                          O
                                                                              R                                                             E

Prévia II

Eu temo o amanhã
Como quem sabe que será executado.
As horas são longas e curtas.
Desansiosamente ansiosa.

Coração e garganta.
Estou ficando sem ar e oxigenada.

Estou desnorteada.
Parada num tempo que acelera
Meu corpo é jogado contra as paredes
Que são feitas com os músculos e a pele dele.

A areia da ampulheta me engole.
Meu cabelos, fiz uma corda,
Para me fazer não tocar mais o chão.

Agridoce
Frio e quente
Meu coração não bate mais.

domingo, 24 de abril de 2016

Prévia

Olá ou tchau?
Eu não sei o que te dizer.
Mas você me é tão caro.
Eu acho que penso que talvez, quem sabe, eu ainda amo você.

Quem eu quero enganar?
Eu mesma?

Você me deixa tão confusa.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Para um certo covarde

Mas meus dedo estará apontando para você.
Todas as rachaduras na parede são sua culpa,
Se esse navio afundar eu vou dizer o seu nome.
E não me traga um espelho, porque eu o quebrarei na sua cabeça.

Se os vizinhos começarem a comentar eu vou me vitimar.
Quando os corpos começarem a feder, já sabe quem será incriminado.

E não me venha com represálias
Porque você, covarde, me deixou aqui sozinha.
Éramos uma dupla e você me abandonou
Fugiu como um cão medroso.

E agora, eu espero que essas prostitutas e todo o dinheiro
Preencha o vazio que eu deixarei no seu peito.
Só preciso de um dedo
Para te fazer me esperar no inferno.



terça-feira, 29 de março de 2016

Música para surdo, Quadro para cego

Tudo o que você pode me dar
É tão pobre de alma
Que qualquer um
Poderia me oferecer.

Todo o calor que me gera
É tão coitado
Que não sei se me dá pena
Ou asco.

Todo amor que me promete
É tão débil
Que me faz perder a fé
Na humanidade.

Todos os olhares que me reserva
São tão miúdos
Que até me apequena
A auto estima.

Todos os sorrisos que me presenteia
São tão tacanhos
Que me questiono
Se no inferno não seria eu mais útil.

Me elogia tão escassamente,
Me consome como um avarento,
Se comunica como uma pedra
E me beija com pressa.

Mas tem paciência para não me sentir.
Virtudes para me ignorar.
Vigor para se calar.
E energia para não se envolver.

Por quê?
Eu só me pergunto
Por que
Não vai te embora?

segunda-feira, 21 de março de 2016

Invisível, mas faz sombra

Sou dilacerada;
Uma alma sem paz.
O tempo é entropia
Meu corpo expira na dor.

Sou errante.
Nem sei meu nome.
O medo sucumbe a ação,
E só sobra um cheiro de tristeza.

A luz fria penetra minha carne
Como quem rouba um morto.
E os corpos sem almas e as almas sem rostos
Passam por mim e não me percebem.

Minha matéria grita
Mas não provoco som.
Minha cerne perece
Mas minhas ruínas continuam sofrendo.



segunda-feira, 7 de março de 2016

Feia

Eu não caibo.
Não.
Não sirvo para usar essa roupa.
Essas palavras não ficam bem na minha boca.
O espelho não gosta de me refletir.

Eu não me enCAIXo.
Não fico bem ao lado dele.
Minha bunda não foi projetada para as cadeiras que usam no natal.
Eu estrago as fotos em família.

Meus dedos não foram desenhados para usar anel.
Meu rosto enfeia qualquer óculos.
Meus pés deterioram qualquer sapato.
E sei que não tenho os ombros certos para usar tomara que caia.

Meus lábios pervertem qualquer batom.
Os olhos... degradam qualquer maquiagem.
Meus cabelos prejudicam qualquer corte.

Eu destroço tudo o que falo.
Devia calar a boca mais vezes.
Tudo o que eu digo é inútil.

Minha unhas danificam qualquer esmalte.
O formato do meu rosto não se ajustam a nenhuma máscara.

Eu corrompo tudo o que toco.
Eu deturpo tudo o que visto.
Eu desperdiço o tempo de quem me ouve.
Eu firo e magoou todos que me olham.

O fato de eu existir prejudica todo o universo.
Eu repilo os átomos que não são meus.

Eu preferia não existir.

domingo, 6 de março de 2016

Insegurança

Por que você não se curva perante mim?
Por que não me idolatra?
Por que a sua casa não é repleta de imagens minhas?
Você me ama?

Por que você não me abraça como se eu fosse a única coisa boa no mundo?
Por que não acaricia meus cabelos como se fossem fios do seu destino?
Por que não toca minha pele como um delicioso tecido raro?

Por que não é viciado em mim?
Por que não deixa meu cheiro te enlevar?

Por que não me decora como uma prece religiosa?


Me sufoque de enaltecimentos.
Me trate como sua divindade.
Me cultue, por favor.

Eu te suplico;
Me preze!
Me venere!
Me estime!


Eu só quero me sentir segura.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Você acha?

Por quê?
Eu não sou como elas?

Só!
Li.
Dão?

Um pedaço de folha suja.
Imprópria para consumo.

Vale a pena se desfigurar?

Toda a vez que eu acho que conseguir te despistar
Você aparece.
Em outros rostos,
Em outras vozes.
Só para me lembrar o que não sou.

Quantas pedaços de mim você ainda quer arrancar?




sábado, 23 de janeiro de 2016

Para você 3 - Lugar nenhum

Por que você não tem as mil faces que eu quero que tenha?
Por que você não é o que eu quero quando eu quero?
Por que você não pula agora dessa ponte?
Por que não pega aquela faca e me mata?
Onde estão suas veias?
Você sangra?
Por que não corta um pedaço de mim e me fabrica mais mil vezes?

Corre, menino estranho, corre.
Que o vento que passa aqui corta a pele jovem e não deixa nada no lugar.

Pode ouvir isso?
É a alma que grita num corpo velho sem vida do animal que você matou.
Pode ouvir agora?
Aquele animal velho, pobre e moribundo agora é sangue nas suas mãos.
Peça para que algum deus mande chuva e lave suas vestes, os juízes logo vem e não perdoam.

Olha para mim!
Diz que ainda pode contar as estrelas em meus olhos.
Olha para mim!
E diz que não me venderia.
Olha para mim, menino!
Diz que ainda é cedo aqui.
Minta!
Diga que o sol nunca se põe.

Pega aquele punhal agora!
Arranca meus pulmões.
Olha para mim e arranca!

Será assim?
Travado na não-ação?
Uma gaiola aberta é isso aqui.
E agora?
Vai cantar o que, menino?




Para você 2 - Agridoce

Eu quero matar você.
Eu quero beijar você.
Quero te aforgar.
Quero envolver me aos seu corpo.
Quero socar te.
Quero devorar o seu corpo até te tornar o meu fôlego,
Quero ir embora e nunca mais te ver.
Quero viver cada segundo com você.
Quero arrancar de mim cada lembrança que tendo de você.
Quero criar história com você.
Quero o quê?
Quem é você?
O que quer você?

Para você 1

Quero ser a sua última lembrança que sobrou da infância.
Quero o maior lugar na sua estante.
Quero ser sua superstição.
Quero estátuas minhas por todo a parte.
Quero quadros meus em cada cômodo.
Quero que sua obsessão por mim me sufoque e mate.
Quero ouvir meu nome até não ser mais palavra.

Memória Tola