quarta-feira, 17 de junho de 2015

Sina

Não queria lembrar mas não posso esquecer.
Daquele crepúsculo amaldiçoado.
O tempo é entropia
Não sei onde estou.
Sinto um rasgo que vai do meu peito gelado até o chão que não toco.

Talvez o destino quis de mim zombar.
Estava tudo claro até chegar lá.
Não sei que horas são.
Tudo o que vi foi o vento tocar.
Num corpo já sem essência.

Desnorteada.
Corpo sem alma.
Olhos abertos não sentem o horizonte.
Maldito dia para acordar.

E  agora?
Que horas são?

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Azul morto

Amigo? Que amigo?
Foi um longo e belo dia comigo e o espelho. 
Taças de vinho e gargalhadas... 
Quem dera eu pudesse. 

Eu vivo na minha garagem só, 
Algo por quem ninguém se interessa 
E nessa rua também não me interessa mais ninguém.

Ó saudosa ilusão de coisa nova,
Vendi até minha herança para tê-la
E agora jantarei sozinha. 
Por que o perfume tão leve delas não dura?

Por que me dastes coisas que morrem? 
Como uma maravilhosa refeição envenenada ao esfomiado.
Tão doces olhares me reservou.
Onde estão meus filhos na minha velhice?

Sozinha ou contigo.
Tanto faz.
Apunhá-le  me agora, por favor.

Teus espinhos em meu pescoço.
Tão dolorosas memórias de uma alma esquecida.
Mas ainda vejo a luz do dia.
Por entre teus ramos que pingam meu sangue.
Num maldito tic tac que não me deixa pensar.

Será este o meu fim com a tão mortífera planta?
Mas quem entende as palavras de uma surda-muda?

Por doces cores me seduiziu,
Mas tudo o que vejo agora é o meu sangue
E as ondas sonoras que ele faz quando beija o chão.
Esse maldito sol para me lembrar que a vida acontece lá fora.

Não diga nada.
Deixe me ir.
Deixe me esvair entre seus dedos.
Como a areia áspera e quente.

Admire o pôr-do-sol.
Enquanto o vento me carrega distante.
Que o perfume das flores te embriague em um calmo sonho.
A lua cobrirá seu corpo.

Amanhã.
O som das árvores me acordarão.
Quase um adágio muito profundo.
Meu espírito sentirá paz.