sábado, 23 de janeiro de 2016

Para você 3 - Lugar nenhum

Por que você não tem as mil faces que eu quero que tenha?
Por que você não é o que eu quero quando eu quero?
Por que você não pula agora dessa ponte?
Por que não pega aquela faca e me mata?
Onde estão suas veias?
Você sangra?
Por que não corta um pedaço de mim e me fabrica mais mil vezes?

Corre, menino estranho, corre.
Que o vento que passa aqui corta a pele jovem e não deixa nada no lugar.

Pode ouvir isso?
É a alma que grita num corpo velho sem vida do animal que você matou.
Pode ouvir agora?
Aquele animal velho, pobre e moribundo agora é sangue nas suas mãos.
Peça para que algum deus mande chuva e lave suas vestes, os juízes logo vem e não perdoam.

Olha para mim!
Diz que ainda pode contar as estrelas em meus olhos.
Olha para mim!
E diz que não me venderia.
Olha para mim, menino!
Diz que ainda é cedo aqui.
Minta!
Diga que o sol nunca se põe.

Pega aquele punhal agora!
Arranca meus pulmões.
Olha para mim e arranca!

Será assim?
Travado na não-ação?
Uma gaiola aberta é isso aqui.
E agora?
Vai cantar o que, menino?




Para você 2 - Agridoce

Eu quero matar você.
Eu quero beijar você.
Quero te aforgar.
Quero envolver me aos seu corpo.
Quero socar te.
Quero devorar o seu corpo até te tornar o meu fôlego,
Quero ir embora e nunca mais te ver.
Quero viver cada segundo com você.
Quero arrancar de mim cada lembrança que tendo de você.
Quero criar história com você.
Quero o quê?
Quem é você?
O que quer você?

Para você 1

Quero ser a sua última lembrança que sobrou da infância.
Quero o maior lugar na sua estante.
Quero ser sua superstição.
Quero estátuas minhas por todo a parte.
Quero quadros meus em cada cômodo.
Quero que sua obsessão por mim me sufoque e mate.
Quero ouvir meu nome até não ser mais palavra.

Memória Tola