Os dentes se apertavam
Se fazia força para abrir as mãos
As palavras asperas se jogavam da boca numa avalanche
E se dispersavam pelo ar como bombas atômicas
O sangue que saía da língua
Alimentava o próprio corpo
Se passaram dias, meses, séculos
E continuava a observar os olhos opacos
Sem conseguir perceber a grandeza do outro
Num labirinto para se achar
Voltando inconscientemente aos mesmos olhos
Que choravam aos seus pés
Querendo ser sentir existentes
Mas não olhava para trás ou para baixo
Sua visão era como uma flecha
Que não prestava atenção nem no ar que rasgava
E mesmo a dor de perfurar e ser perfurada
Mesmo os berros que chicoteavam os ouvidos
Eram apenas ondas invisíveis de medo
Que manipulavam subliminarmente
A pele irritada, vermelha, machucada
Separava os dois ou mais seres
Que brincavam de se apunhalar sorrindo
Pois eram um do Todo
Mas escreviam com mãos opostas
A noite se tornou fria
E fez-se uma fogueira com seus cabelos
Seus ossos se dissolveram com o Sol
Que pelo contraste mostrava uma nuvem de poeira
A qual os atômos dela se misturaram
Para formar uma montanha
Para que os pés daquela que É um dia pisar