terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Ressaca de lembranças

  Caminhando em retas e curvas com a cabeça no lugar de um pé e o pé nos dentes. Andando em uma escultura contemporânea. O que é tudo, agora? Eu vi nuvens nuas criando nuances num céus negro de noite. Larguei meu corpo numa estrada perigosa, porque não entendia nada.
  Uma caixa cinza falou hoje que aquele homem velho morreu, mas quem era aquele bosta? Ontem eu morri numa estrada perigosa, amanhã você. Mas não usamos ternos, não estamos em caixas cinzas, mas em caixas de terras e flores, rumos ao inverno ou inferno. E meu corpo dança com um cadáver velho de terno com cheiro de poucas experiencias.
  Aquele garoto gordinho, que as biscatinhas da terceira série caçoavam, continuo gordinho e estranho. E nenhuma das biscates se casou com um boy band que morreu de overdose de qualquer coisa ilegal aos trinta e dois. Ele também não apareceu na caixa cinza.
  Às vezes eu sou um garoto gordinho com problemas de autoestima, outras vezes um velho com Mal de Parkinson. Mas isso porque eu não tenho amigas.
  Joguei um garoto no lixo ontem. Queria ter ficado até poder ver o caminhão de lixo o amassar, mas chovia embaixo do meu guarda-chuva.
  Aquela sensação de não ter ar nos pulmões. Hoje eu me sinto num copo de vidro ondulado, como se algumas pessoas me vissem maior do que eu sou, outras menores. Eu desafio a lealdade da sua mente. Sou apenas um poro na inconsciência. Subo e desço por todo o desenho. Mas nada é o suficiente.
  Com uma fiel estrela guia e uma bússola desregulada. Sou o oposto de dois opostos. Sou a alma sem rumo que corre a cidade nas noites de funeral, sou o morto na televisão, sou um garoto abominável com Parkinson, sou um copo contemporâneo inspirados em nuvens e nuances, sou a biscate deplorável de dez anos, sou as curvas retas na cabeça do pé, sou a boy band de terno com flores numa caixa cinza de terras. Tenho trinta e dez anos, dois domingos. Fui jogado no lixo por um caminhão e o guarda-chuva era amassado pelo inverno no inferno. A autoestima com problemas de amigas estranhas, sou ilegal ao poro da terceira série, me casei com aquele bosta que morreu ontem numa estrada perigosa, uso terno com cheiro de poucas experiencias de um cadáver sem ar nos pulmões. Seguindo uma bússola fiel e uma estrela desregulada, rumo a dois oposto da alma que corre a cidade no funeral do meu marido abominável. Sou apenas um poro na inconsciência.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Refrão de voo

  Num fluxo constante ele se movia. Seguindo cada segundo que o relógio gritava, era apenas mais uma engrenagem. Tão hipnótico, não podia se desviar o olhar e nem se lembrava que algo além dele tinha vida. Ele agia perfeito, em cada passo brusco, em cada suspiro.
  Como gatos procurando movimento, nós seguíamos, tão imortais, perto daquele corpo que recriava o universo e a vida. E nada é impossível. Escreverão odes à ele, o deixarão tomar o mundo, nos escravizou pelo movimento. Somos pequenas poeiras orbitando-o. 
  Remetia-nos a um quadro jamais pintado, era a voz das paredes, era o som das flores que caiam num caminho remanso. Terno, eterno. Nos roubava os olhos e a existência. Era olhar o infinito pela fechadura, de uma porta que jamais passaria. Nosso corpo apenas um corpo. 
  Ele abraçou-nos e soltou-nos, era um pássaro, e de repente um prisioneiro. Ele... ele voou, tão alto e caiu. Ergueu-se. Olhou para uma realidade oposto e voou novamente. Largou-nos, abraçou-nos. Eramos tudo e nada, eramos o vento, eramos o seu elmo, eramos... 
  E foi embora, como uma luz que se apaga e não se despede. Andando, voou pela última vez. Ele esvaiu, como se não fosse perfeito, como se não fosse nossa alma, não voltou para os aplausos. Agora o supremo, apenas uma memória gasta.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Monólogo

  Em vícios e vícios. Embebedei-me mais uma vez hoje. Fiquei vendo as coisas mudarem, as crianças crescerem, mas eu continuei observando. A depressão que a má fé me trouxe, oh, tão latejante, o tempo todo. Uma vontade de gritar, mas o corpo não respondia. Eu aceito, estava invejando todo mundo.
  Eu queria um pouco de cada um, mas só tinha um pouco de mim mesma. E a culpa disso é só minha. Infeliz.
  Com as calças manchadas e o sentimento de que não deveria ter saído da cama. Todo o tempo. Eu me sinto tão só o tempo todo, todo mundo é tão vazio quanto eu. Perdida na imaginação, continuo... Eu não ouço nada além de meus pensamentos. Tenho que me esforçar para entender os bom dias que dão-me, mas não lembro-me de ouvir nenhum.
  As horas tão mesquinhas passaram rapidamente. Acho que são 3 horas da tarde, ou da manhã, talvez dia 14, não me lembro se quinta ou terça. Todos os dias são iguais, menos os domingo; há algo de mais triste nos domingos.
  Uma incessante culpa, eu poderia ser melhor, mas tudo é tão maior. Me sinto tão... só, novamente.
  Um sorriso morto, em membros sem vidas e suas críticas só me matam. Poderia sorrir para mim? Todo tempo e todo espaço, nada de bom você me disse. Acho que tenho dois superegos odiáveis. Eles estão errados, todo mundo está.

  Eu me sentiria melhor sendo morta por alienígenas, hoje. Pensei nisso enquanto falavam comigo sobre mim ou outro assunto. Era um bom texto, que eu não li, ninguém leu, e ela vai morrer junto com seu livro. Mas quem era ela?
   Uns tão promíscuos que me dão nojo, outros também, mas só quando ninguém está olhando. Prostitutas e prostitutos numa vida, por todo o tempo. E em meio ao redemoinho, meu corpo estável e impuro rodeado de erros e prostituições. Lancei-me no mar, mas ele não me molhava. Não sinto mais frio ou calor, não sinto meus pés tocando o inferno.

  Queria ter tanto quanto alguns e tão pouco quando diversos outros alguns. Queria ser um pouco de todo mundo, queria ser qualquer outro alguém, menos algumas pessoas, não gosto de algumas pessoas.
  Me sinto tão velha e doentia, e nem cheguei aos 20. E quando chegar aos 60, me sentirei tão... morta. Eu só quero chorar, até lavar o passado todo. E continuar a choras até matar todo o meu corpo e ser apenas umas criança que não tem nem mais que poucos anos de erros.