quinta-feira, 28 de março de 2013

Buscando

  Desdobro-me como uma flor em seu ápice, tudo me puxa à murchar. Mas ainda restou forças, estouro todos meus músculos para manter em um mundo paralelo.
  Agora aqui. Tão cedo para morrer. Eu fui e não quis voltar, mas quis voltar. Isso é mais do que religião, não sei porquê o fiz. Não sei porquê. Mas me arrependi ou não. Mas só eu sei, então me sinto como um ladrão que se assusta com tudo o que move-se.
  Há alguém que possa me ouvir?
  Eu não me descreveria como um fracasso.
  Tive medo, mas me tornei.

  Como retomar o folego, é o que estou procurando. Não me sinto poeira cósmica e não me sinto num centro divino. Estou procurando sentir algo, estou procurando sentir meus olhos brilharem novamente. Pois todo dia e acordo e durmo, minha infância se esvai junto as noites, minha infância me tira o motivo de ter vida.
  Me olho no espelho, não sei se sou um 3 ou 7, mas estou procurando algo maior que isso, toda vez que me olho no espelho, eu procuro, mais do que números cruéis, um brilho. Procuro uma espada que vi, quando ainda tinha fé.

  Acho que todos procuram saber quem são, mas ninguém conseguirá ouvir até o final. Agora eu não estou preocupada com isso, eu quero de volta o que me foi roubado, eu quero meus tesouros perdidos, quero minha vitalidade, minha eternidade.
  Eu tive muito medo, mas eu cheguei até aqui. Não num triunfante trono e nem em glórias, mas cheguei com todos os membros. O próximo passo é retornar pelo mesmo caminho que me causa solidão e temor. E depois de conquistar o autorrespeito, apenas morrer. Agora não desejo um espaço na imensidão da lembrança, mesmo não amando o esquecimento eterno, quero morrer e renascer em minhas memórias, como um triunfante animal que seguiu seu curso inatural.

  Enquanto houver motivo haverá luta. E disso não quero me distanciar.

  Pois agora, as cicatrizes de ontem ficaram no ontem. E morreu quem tinha de morrer, e viveu quem tinha de viver. E agora eu sei que a dor não deve ser evitada. Agora que a infância se vai, eu deverei parar de chorar com um filhote de presa que atrai todos os lobos.
  Agora que matei a inocência e a beleza, só resta buscá-las e guardá-las, para poder ver além da penumbra e além de meus medos e cicatrizes. A empolgação infantil e a amplitude para todas as regiões.

  Além das verdades, eu olharei, verei tudo o que é belo de novo. Além do tempo eu permanecerei com minha alma jovem, mesmo que meu corpo se decline ao tempo. Eu estarei sempre viva e consciente. Com o melhor de duas vidas.